Marcos indenitários da mulher ribeirinha na fronteira amazônica Brasil/Bolívia por Pricilla Carvallo

Conhecerr as experiências contidas nas narrativas das mulheres ribeirinhas é expandir para além das fronteiras amazônicas a dimensão cultural do uso do território. Construções indenitárias baseadas nos valores e conhecimentos historicamente acumulados ao longo da vida. Conhecer a dinâmica das práticas cotidianas sob a ótica da mulher ribeirinha no que diz respeito: ao casamento, ao trabalho, a religião, a saúde, a participação social e autoestima nos sugere ter em mente as representações simbólicas, os sentidos práticos colocados na vida coletiva das comunidades ribeirinhas da fronteira.

A metodologia de coleta de informações empíricas surgiu da posição etnográfica assumida pela valorização doo contato direto com o cotidiano vivido pelas Mulheres ribeirinhas, uma pesquisa de campo em que o diálogo estimulou às narrativas sobre suas trajetórias de vida. Isso permitiu a construção de um conhecimento e valorização das diversas vozes trazidas por mulheres em seus próprios espaços de convivência. Entrevistas e conversas informais que foram tecidas pelas vozes femininas, evidenciando suas diversas formas de viver e conviver em meio às águas e a floresta.


Pescando, cultivando , educando os filhos, cuidando da família, participando das práticas religiosas e festejos da comunidade. Conhecemos histórias que nos permitiram compreender, através das diversas narrativas a experiência do Ser mulher, não como categoria homogênea, mas a partir da interseccionalidade que inscreve em seus corpos as condições de classe, etnia, raça, geração, território, entre outras.

O olhar delas, por elas

É comum que se tenha a ideia de que a figura feminina é aquela que é a dona de casa, cuida apenas dos afazeres domésticos e dos filhos, ao contrário disso, atribui-se à figura masculina o papel do provedor ou aquele que cuida do sustento da família. Diante disso algumas características trazidas pelas próprias mulheres ribeirinhas nos chamaram atenção.

Casamento: As famílias caracterizam-se por serem numerosas, percebemos mulheres novas com muitos filhos. Essa é uma situação comum nas comunidades ribeirinhas bolivianas. O controle da natalidade parece não ser uma preocupação, apesar da política social do governo boliviano que oferece Implante Contraceptivo Subdérmico gratuitamente às mulheres, mas que que percebemos a maioria não utiliza. De acordo com a maioria das mulheres entrevistadas, a decisão de usar ou não o contraceptivo nem sempre fica a cargo da mulher mas do parceiro. Porém, há mulheres que não aceitam esse tipo de interferência masculina, possuem uma maior autonomia não apenas na tomada de decisão na relação conjugal, mas nas atividades comunitárias e nas decisões políticas da comunidade. São exemplos de empoderamento feminino dentro de territórios machistas e opressores.

Trabalho: Nestas comunidades o trabalho feito pelas mulheres é  de acordo com cada tipo de familia; naquelas onde o marido é o chefe da familia, a mulher surge como uma auxiliar nas atividades de plantio e colheita e onde não há a figura do homem como chefe de família, a própria mulher toma a frente dos trabalhos sendo auxiliada pelos filhos, considera-se relevante pontuar que o fato de algumas terem filhos de colo, não ficam impedidas de exercer seu trabalho, considerando que o plantio não é apenas para consumo, mas também para venda.

Religião: Em sua grande maioria a religião católica destacou-se naquelas comunidades, nas falas das mulheres, foi observada com evidencia a pratica desta religião, desde a participação nas missas às festividades dos santos dos quais são devotos.

Saude:  Por se tratar de lugares distantes de cidades, na fala das mulheres foi possível identificar que quando se trata de assuntos relacionados à saude, elas recorrem as plantas medicinais, ainda relataram que algumas vezes recebem atendimento médico quando há ações direcionadas para a comunidade em geral, mas a principal forma de combate às doenças são as plantas fitoterápicas.

Participação Social: Neste ponto a mulher destaca-se por serem maioria em presidir ou representar suas comunidades, vale destacar que seu papel ganha dimensão em suas comunidades, onde por varias situações de problemas familiares, tais representantes exercem o papel de conselheiras.

Considerações finais

Os  territórios ribeirinhos constituem espaços de confronto entre modelos econômicos, nos quais as mulheres são protagonistas que dilatam o presente, pois defendem uma tradição cultural que vem do passado, para garantir seu futuro, assim como afirma Rita Laura Segato (2011) Concentrar-se na experiência e a agência dessas mulheres a partir de seus próprios espaços de enunciação, é reconhecer sua luta contra os agentes de dominação, incluindo o Estado, principal responsável pela “manutenção do patriarcado” e pela impunidade em que a violência contra a mulher permanece.As mulheres mapeiam seus territórios simbólicos como espaços de sobrevivência. Tudo isso permite a construção de um conhecimento que nasce de um tempo compartilhado, de valorização do conhecimento ancorado na experiência das mulheres, monitorando a especificidade que pode informar uma leitura interseccional de gênero em que seus próprios espaços de convivência se torne um processo que articula longas conversas que desencadeiam palavras que são então tecidas  para que suas vozes não estejam  ausentes nos textos que, como autoras, tiveram que construir.

Uma opinião sobre “Marcos indenitários da mulher ribeirinha na fronteira amazônica Brasil/Bolívia por Pricilla Carvallo

  • 01/09/2022 em 22:47
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    Percebo o papel e importância da mulher no campo econômico, social e etc… e que nos trazem a refletir que as vivências, moldam e estruturam mulher determinadas .

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